27 de abril de 2024 - 01:52

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Para analistas, recessão moderada nos EUA favorece o Brasil

A retração da economia dos EUA pelo segundo trimestre consecutivo pode levar o banco central americano a subir menos a sua taxa básica de juros, fator que deve amenizar a recessão esperada para conter a alta da inflação, que está no maior patamar em 40 anos.

O dado é também uma boa notícia para o Brasil, uma vez que um diferencial de juros menor para o maior mercado financeiro do planeta contribui para conter a desvalorização do real.

A economia dos EUA encolheu 0,9% no segundo trimestre de 2022 em termos anualizados, depois de recuar 1,6% nos três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (28).

Os EUA dão destaque ao dado do PIB na forma anualizada, basicamente a multiplicação por quatro do resultado do trimestre –o número arredondado de 0,2% neste caso.

Também é comum que os economistas utilizem o termo “recessão técnica” quando há duas quedas seguidas do indicador, mas nem o governo americano nem o órgão que analisa os ciclos econômicos no país consideram que o país esteja nessa situação.

A divulgação do número, no entanto, mexeu com os mercados globais. As curvas de juros nos EUA, um bom termômetro sobre o caminho do dinheiro, aponta a necessidade de um aperto monetário menor, o que também pode ser visto como um sinal de uma retração maior da economia americana esperada nos próximos trimestres.

“Os EUA já estão em recessão técnica. Agora, se é recessão, não é generalizada. O mercado de trabalho nunca esteve tão forte. É uma situação atípica”, afirma a economista Vitoria Saddi, da área de mercados internacionais da consultoria SM Futures.

Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, diz que o cenário está longe da última grande crise naquele país, em 2008 e 2009. Primeiro, porque o desemprego segue em nível historicamente baixo. Além disso, o setor financeiro, as famílias e grande parte das empresas encontram-se em melhor situação financeira do que aquela observada após a quebra do banco de investimento Lehman Brothers.

“Apesar da queda do PIB e do cenário de recessão técnica, não esperamos que a economia americana entre em um período de forte contração e crise”, afirma a economista, que projeta crescimento de 1,6% para a economia americana neste ano.

Ela afirma que, se a inflação voltar à normalidade, o Federal Reserve (banco central americano) poderá aliviar a alta dos juros por volta do fim de 2023. “Caso contrário, os juros podem precisar subir ainda mais, aprofundando a recessão, mas vemos esse cenário como menos provável.”

Também na avaliação de Francisco Nobre, economista da XP, os juros nos EUA podem começar a cair no final do próximo ano, e o Fed deve reduzir o ritmo de aperto monetário a partir de agora. Ele projeta mais dois aumentos de juros –0,50 e 0,25 ponto percentual neste ano–, com expansão de 1,6% e 1,5% para a economia americana em 2022 e 2023, respectivamente.

O gerente do Departamento Econômico do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, também afirma que o Fed deve moderar o ritmo de alta de juros nas próximas reuniões e até entregar um patamar abaixo de 4% ao ano ao final deste ciclo. “Projetamos 3,25%, 3,50% para a Fed Funds Rate em dezembro de 2022. Ontem [quarta-feira, 27], Jerome Powell, presidente do Fed, também sinalizou nessa direção.”

Vitoria Saddi, da SM Futures, afirma que a visão do mercado é otimista diante do desafio inflacionário nos EUA. “Para baixar uma inflação de 10% para 2%, você vai ter de produzir recessão, queda de PIB e aumento de desemprego.”

As contrações trimestrais consecutivas atendem à definição técnica de recessão, embora os EUA dependam da determinação de um grupo de pesquisadores da Agência Nacional de Pesquisas Econômicas que analisam uma gama mais ampla de fatores.

A Casa Branca sustentou que a economia dos EUA continua forte e não está em recessão, com a secretária do Tesouro, Janet Yellen, dizendo no início desta semana que “ficaria surpresa” se a agência declarasse que estivesse.

Mas dois trimestres consecutivos de crescimento negativo vão aumentar ainda mais a pressão sobre o presidente Joe Biden, que enfrenta baixos índices de aprovação e repetidamente citou a economia forte como uma das principais conquistas de seu governo.

Logo após a publicação dos dados, Biden disse: “Não é surpresa que a economia esteja desacelerando enquanto o Federal Reserve age para reduzir a inflação. Mas, mesmo enfrentando desafios globais históricos, estamos no caminho certo e passaremos por essa transição mais fortes e seguros. Nosso mercado de trabalho permanece historicamente forte.”

Em entrevista coletiva na quarta (27), depois que o Fed aumentou as taxas de juros em 0,75 ponto percentual pelo segundo mês consecutivo, Jay Powell, disse que não acredita que o país esteja em recessão.

Apesar da queda do PIB, o consumo pessoal, que oferece informações sobre a saúde do consumidor americano, cresceu 1% no segundo trimestre, em comparação com um crescimento de 1,8% nos primeiros três meses do ano.

O maior obstáculo para o PIB do segundo trimestre foi a queda dos estoques das empresas, que eliminou dois pontos percentuais do número principal.

Alguns economistas acreditam que esse tenha sido um efeito persistente da economia pandêmica do ano passado, quando os estoques das empresas aumentaram à medida que as prateleiras foram reabastecidas depois que os gargalos da cadeia de suprimentos relacionados à Covid-19 começaram a diminuir.

A queda no investimento em estoque também refletiu o impacto de amortecimento que os aumentos das taxas de juros do Fed tiveram sobre o investimento empresarial, disseram economistas.

Diário do Ribeira / Gazeta SP

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