26 de abril de 2024 - 04:37

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‘Cabeça de Nêgo’ mostra a força do cinema negro para jovens no Brasil

A estreia de “Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso, nos cinemas agora é uma boa notícia em vários sentidos. Mostra o vigor da produção cearense, com um elenco praticamente desconhecido do público do Sudeste. E, principalmente, expõe a potência e a sensibilidade de um cinema feito por um diretor negro, com atores, em sua maioria, negros.

Os últimos anos viram uma evolução na representação negra nas produções brasileiras para o cinema. Depois de diretores pioneiros, como Adélia Sampaio, Odilon Lopez e Zózimo Bulbul, vieram nomes como Jefferson De e Joel Zito de Araújo. Mais recentemente, surgiram cineastas com novos olhares sobre a temática, caso de André Novais Oliveira, Camila de Moraes, Sabrina Fidalgo e alguns outros.

O avanço se constata não só pelo número crescente de diretores negros que conseguiram viabilizar seus projetos, mas porque não falta talento a eles. Mesmo assim, é preciso reconhecer que ainda são pouquíssimos diante de tantas histórias a serem contadas.

“Cabeça de Nêgo” aposta numa frente pouco explorada no Brasil, o cinema negro direcionado principalmente ao público jovem. Aluno do ensino médio de uma escola pública de Fortaleza, Saulo, papel de Lucas Limeira, se enfurece quando um colega o chama de “macaco” durante a aula. O professor, que não havia testemunhado o insulto racista, só a reação, decide expulsar Saulo, mas o rapaz se nega a sair da sala.

O protesto vai além. A noite chega, e Saulo não arreda o pé -só ficam no colégio ele e o segurança. Além da ofensa, Saulo está contrariado com as condições precárias da escola e aproveita os ambientes vazios para registrar os problemas com seu celular. Grava, por exemplo, os ratos e os alimentos estragados na cozinha. As imagens viralizam e insuflam uma rebelião de estudantes.

Ele também aproveita os momentos de solidão para ler sobre os Panteras Negras. Em meio à leitura, belas projeções na parede lembram símbolos do movimento negro -brasileiros, como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez e Marielle Franco, e americanos, como Angela Davis e Malcolm X.

Algumas fragilidades de “Cabeça de Nêgo” saltam à vista, como a construção um tanto caricatural dos professores.

São, no entanto, pontos secundários. Saulo é um protagonista improvável, longe do padrão do jovem eloquente e sedutor. Nele, a indignação é, por um lado, refreada pela timidez e, por outro, impulsionada pelo entusiasmo com o conhecimento. Sob a direção eficiente de Cardoso, o ator Lucas Limeira lida bem com essas contradições.

Por fim, poucos temas são tão pertinentes para reflexão em arte nos dias que correm, como racismo, descaso com educação e autoritarismo. “Cabeça de Nêgo” é definitivamente um filme para o seu tempo.

 

Gazeta SP/Folhapress

 

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