26 de abril de 2024 - 10:35

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Taleban toma Cabul e volta ao poder no Afeganistão após 20 anos

O Taleban, grupo que virou sinônimo de radicalismo fundamentalista islâmico e conduziu uma vertiginosa campanha militar de duas semanas, derrubou o governo do Afeganistão 20 anos após ser expulso do poder pelos Estados Unidos.

Suas tropas entraram em Cabul pela primeira vez desde 13 de outubro de 2001, quando tiveram de se retirar da capital sob as bombas norte-americanas e britânicas que abriram caminho para forças adversárias da chamada Aliança do Norte.

Desta vez, a entrada ocorreu sem resistência, apesar de relatos de tiroteios esporádicos na madrugada de domingo. Hospitais da cidade reportaram cerca de 40 feridos leves.

O grupo tomou o palácio presidencial. Imagens veiculadas pela mídia local e pela emissora qatari Al Jazeera mostram combatentes do Taleban no interior da sede do Executivo afegão.

Ao longo do dia, o presidente do país, Ashraf Ghani, ainda buscava uma solução negociada com os invasores, que prometeram moderação para incrédulos interlocutores ocidentais.

“Queremos uma transição pacífica”, afirmou à rede BBC um porta-voz taleban, Suhail Shaheen.

Não deu certo para Ghani, que deixou o país no começo da noite (fim da manhã no Brasil). Seu gestão, iniciada em 2014 e vista como um marionete das forças ocidentais, colapsou. Como será formado o próximo governo é incerto, mas o Taleban venceu a guerra.

Segundo a Al Jazeera, o porta-voz Mohammad Naeem afirmou que o grupo “não quer viver no isolamento” internaciona e que a natureza do novo regime será anunciada logo. “A guerra acabou”, disse.

Ghani disse em publicação no Facebook que decidiu deixar o país para “evitar um banho de sangue” e que “inúmeros patriotas teriam sido martirizados e Cabul seria destruída” caso ele não entregasse o poder.

“Os talebans ganharam. Agora, são responsáveis pela honra, pela posse e pela autopreservação do seu país”, escreveu o presidente afegão. Ele não informou para onde fugiu, mas a rede Al Jazeera diz que ele está no Uzbequistão.

O ex-chanceler Abdullah Abdullah, que foi derrotado por ele na polêmica eleição de 2019, insinuou que Ghani foi covarde. O Taleban afirmou que irá renomear o país com o nome que usava sob sua primeira gestão, de 1996 a 2001, trocando o República por Emirado Islâmico do Afeganistão.

Foram 19 anos, 10 meses e 3 dias desde aquele momento de derrota, que marcou o início da ocupação liderada pelos Estados Unidos. Washington buscava punir o grupo por ter abrigado a rede terrorista Al Qaeda, que ordenara os ataques do 11 de setembro de 2001, mas acabou atolada na sua mais longa guerra.

Assim como as bombas do Ocidente removeram o Taleban de Cabul em meros sete dias, a ausência delas entregou todo o Afeganistão de volta aos radicais em duas semanas exatas.

No domingo retrasado, aproveitando o virtual fim da presença militar americana no país após a decisão em abril do presidente Joe Biden de cumprir a retirada acertada por Donald Trump e o Taleban em 2020, os militantes deixaram as áreas rurais que dominavam parcialmente ao longo dos anos e fecharam cercos a capitais provinciais.

As tropas deveriam deixar o Afeganistão em maio, mas Biden postergou o prazo para o fatídico 11 de setembro deste ano. Depois, o adiantou para 31 de agosto, mas o Taleban aproveitou a deixa, disse que o acordo havia sido rompido e abandonou a promessa de não buscar a vitória militar.

A partir da sexta (6), as cidades caíram em dominó. Evitando deixar o norte do país como bolsão de resistência como nos anos em que governou, o Taleban investiu primeiramente na região de maioria étnica tadjique e uzbeque.

As regiões fronteiriças já estavam em mãos talebans, tanto que a Rússia virtualmente militarizou o seu aliado Tadjiquistão ao enviar forças para um exercício, evitando assim o transbordamento do conflito.

O sul e o sudoeste, áreas tradicionalmente associadas ao Taleban por serem majoritariamente da etnia do grupo, a pashtun, vieram a seguir. No sábado (14), caiu o bastião noroeste de Mazar-i-Sharif e, nas primeiras horas do domingo, Jalalabad, a cidade que liga Cabul à fronteira do Paquistão.

 

Diário do Ribeira/Gazeta SP

Foto: Reuters

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