23 de abril de 2024 - 04:53

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Diante da alta dos combustíveis, vale a pena ter um carro?

Foi-se o tempo que a escolha de ter ou não um carro na garagem passava apenas pela questão do status e conforto. Diante de crise econômica, pandemia, guerra e sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, é preciso colocar os custos na ponta do lápis para saber se a posse do automóvel é necessária ou se está fazendo você perder dinheiro. Ao menos, este é o conselho dos especialistas ouvidos pela Gazeta de S. Paulo.

“Ter um carro é uma decisão emocional para muitas pessoas, já que o mesmo pode ser um sonho de consumo. Porém, a escolha de ter um carro vai depender muito da utilização e do fluxo financeiro pessoal”, declara o planejador financeiro Marlon Glaciano.

O fundador e CEO da plataforma financeira app n2 André Barreto chama a atenção para a alta dos combustíveis e diz que é preciso fazer as contas para decidir se vale ou não a pena ter um carro. “Se o carro é necessário, por exemplo, para chegar ao local de trabalho, é um peso totalmente diferente do que numa casa em que todos trabalham home office ou híbrido. Outra questão é a do transporte público: quando os principais pontos como casa e trabalho são facilmente acessíveis pela malha de transporte público, é mais sustentável e econômico não ter um carro. A família deve colocar na ponta do lápis os custos com o pagamento do carro, seguro, combustível e economia para eventuais consertos e revisões, e ver se esse é o tipo de dívida que faz sentido assumir.”

Já a educadora financeira Mônica Costa, do G&P Finanças lembra que carro é sinônimo de gasto. “É importante lembrar que carro não é um investimento, é um passivo que se desvaloriza diariamente. Perde cerca de 10% do valor ao ano. Por isso, a aquisição de um veículo só deve ser uma opção para quem tem as contas organizadas e investimentos em dia para não comprometer o orçamento.”

Uma situação para cada perfil
Se no passado não muito distante não havia alternativas para quem não quisesse ter um carro próprio e ao mesmo tempo não considerasse o transporte público uma boa opção de mobilidade, hoje, há diversas opções, sobretudo nas grandes cidades, como o aluguel, carros por assinaturas e até mesmo os aplicativos. Entretanto, ao contrário do que se imagina, elas não são boas para todos.

“Para quem trabalha muito longe, na Grande São Paulo, um carro pode compensar e muito na questão de segurança e tempo. É mais interessante que seja um carro próprio do que um por assinatura, pois estes costumam ter limite de distância percorrida por mês. Já uma família que mora em São Paulo e tem compromissos relativamente perto, mas não tem acesso tão fácil à malha de transporte público, pode se beneficiar de um carro por plano de assinatura, pois os gastos costumam ser menores e já cobrem imprevistos, como consertos, e grandes gastos, como revisões. Assim, a família não abre mão do conforto, mas não se compromete com dívidas tão grandes. O aluguel esporádico de veículos e o uso de carro de aplicativo vale a pena para pessoas que trabalham e moram com acesso fácil ao transporte público, e pode ser reservado para momentos como o mercado do mês, passeios de fim de semana e breves viagens de feriadão”, explica André.

Mônica concorda, mas lembra que o carro de aplicativo pode ser uma solução para quem está em um financiamento automotivo. “O automóvel próprio pode ser mais indicado para quem já está com o veículo quitado, pois as parcelas de um financiamento representam cerca de 50% dos custos mensais. Com a gasolina custando em média R$ 7,00, para um carro popular que consegue fazer 14 km por litro, mais manutenção, impostos, seguro, a pessoa tem um custo que gira em torno de R$ 1150,00´. Agora, se o carro ainda estiver financiado, os custos podem aumentar em até R$ 1.000,00 e neste caso, o carro por aplicativo será a melhor solução, visto que o custo mensal será de aproximadamente R$ 1441,00 no mesmo período”, observa.

Custos
Um levantamento recentemente realizado pelo Ibmec mostra que manter um carro na garagem quase que dobrou nos últimos sete anos. Assim, os especialistas alertam que para ter o orçamento sob controle, o ideal é que os gastos com o automóvel não ultrapassem 30% da renda mensal familiar.

Para entender os custos envolvidos quando o assunto é carro, o planejador financeiro Marlon Glaciano calculou quanto seria necessário para manter um carro popular.

MODELO: Ford Ka SE 1.0

Preço de tabela: R$ 47.490,00

Combustível: R$ 3.913,04

IPVA: R$ 1.899,60

Seguro (média): R$ 1.389,00

Licenciamento e DPVAT: R$ 99,10

Manutenção (1ª revisão): R$ 449,00

Garagem (12 mensalidades): R$ 4.800,00

Lavagens (2 por mês = 24 por ano): R$ 960,00

Total de despesas (no ano): R$ 13.509,74

Média por mês: R$ 1.125,81

Depreciação (12,5%): R$ 5.936,25

Custo de oportunidade: R$ 1.412,83

Total de custos financeiros (no ano): R$ 7.349,08

Subtotal (despesas + custos financeiros): R$ 20.858,82.

Para economizar
Segundo os cálculos de Marlon, o combustível responde por uma boa parcela dos gastos que uma pessoa tem com o automóvel. Contudo, de acordo com Fernando Schaeffer, CEO da Smart Driving Labs, uma plataforma de monitoramento e análise de dados, que, entre outras coisas, analisa o perfil de condução do motorista, com algumas atitudes simples é possível economizar.

Calibragem do pneu
Segundo Fernando, quando o pneu está muito baixo, existe maior atrito com o asfalto, o que faz com que o carro precise de mais potência para se movimentar, consumindo mais combustível. Assim, sempre verifique a pressão do pneu a cada abastecimento.

Realize limpeza periódica do filtro de ar
O carro a combustão, seja a gasolina, diesel ou álcool flex, é composto de combustível mais a entrada de ar. Se o filtro não está limpo, ele fica obstruído. Em alguns carros, é possível, eletronicamente, ser avisado no painel por meio dos sensores digitais que começam a ser alarmados por meio de uma mensagem de checagem. Porém, muitas vezes o carro não é tão moderno e isso não é notificado para o motorista.

Condução do motorista
Se o motorista realiza muitas acelerações e freadas bruscas, isso faz com que mais combustível seja injetado no carro. Portanto, dirija com precaução.

 “Fizemos alguns testes em alguns carros conectados pela plataforma de monitoramento e análise de dados da Smart Driving Labs e observamos que em um mesmo percurso com mais acelerações, o consumo de combustível aumentou 40%. Constatando que a forma pela qual você dirige é muito relevante para o seu consumo”, finaliza.

 

Diário do Ribeira / Gazeta SP

 

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