‘No Dia Internacional da Mulher não há nada a comemorar.’ É nesse teor que o Sinpolsan – Sindicato dos Policiais Civis de Santos e Região – aborda a data por um viés que transpõe a romantização e se baseia em fatos nada animadores.
De acordo com o sindicato, enquanto o Brasil registra um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas, as delegacias do estado de São Paulo investigam apenas 30% dos casos de violência contra a mulher.
Os números refletem uma realidade ainda baseada no abuso, na vulnerabilidade e, muitas vezes, no descaso, a partir de uma avassaladora desigualdade de gênero.
“Não há nada de comemorativo no dia de hoje. Muito pelo contrário. Mulheres continuam sem assistência, assim como as Policiais Civis seguem vítimas de preconceito e mínimas condições de trabalho. É uma luta sem fim com estatísticas vergonhosas vindo à tona enquanto o governo tenta camuflar dados e fazer a sociedade acreditar que medidas estão sendo tomadas. Vivemos o retrocesso, mas as nossas denúncias não serão arquivadas”, destacou o presidente do Sinpolsan, Renato Martins.
Na Delegacia da Mulher (DDM) de Santo Amaro, na capital paulista, por exemplo, dos 1600 inquéritos abertos, 1200 estão parados por falta de estrutura para investigação das ocorrências. ‘Ironicamente, a unidade policial criada especificamente para atender o público feminino não conta com funcionários ou estrutura suficiente para acolher as vítimas. Uma equipe multidisciplinar composta por policiais, psicólogos e assistentes sociais ficou apenas em um discurso estacionado em promessas não cumpridas’, diz a nota do sindicato.
Ainda, de acordo com a Sinpolsan, a maioria das DDMs não possui nem mesmo uma delegada de plantão para atender as mulheres, que buscam nestas unidades ditas especializadas, um espaço mais acolhedor se comparado às delegacias comuns.
“Mal sabem elas que, em breve, o atendimento será feito nos DPs abertos ao público em geral. Os locais terão salas pintadas de lilás. É o estado de São Paulo reconhecendo a sua dificuldade em ter uma delegacia 24 horas com uma equipe treinada ou vocacionada para registrar os crimes cometidos contra mulheres que buscam colocar um ponto final na sua história de terror. No entanto, vão entrar na fila de casos não resolvidos”, conclui o sindicato, em tom de protesto.
Diário do Ribeira